The Great Resignation: E quando mudar de emprego é pior do que ficar?

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Escrito por

Marina Pinho

Communication Manager

Durante os últimos dois anos, um grande número de pessoas, um pouco por todo o mundo, decidiu voluntariamente mudar de emprego, causando o fenómeno intitulado “The Great Resignation” (A Grande Renúncia). No entanto, estudos demonstram que muitas destas pessoas, acabaram por perceber que o local onde se encontravam era melhor. Mudar de trabalho é uma grande decisão sobre a qual se deve refletir para evitar futuros arrependimentos. Por isso, neste artigo exploramos alguns passos para que possam evitar tomar uma decisão sobre a qual se venham a arrepender e como tornar todo o processo mais agradável. 

“A Grande Renúncia”

Nos EUA, só em abril de 2021, mais de 4 milhões de trabalhadores despediram-se do seu trabalho, chegando a  valores que rondam os 20 milhões na totalidade do ano. Também na Europa se pode observar um fenómeno similar, apesar de em menor escala. Em países como França, o número de despedimentos voluntários atingiu o seu máximo entre julho e setembro do mesmo ano, chegando a recordes de 2007. Já no UK, o maior número de movimentações ocorreu entre outubro e dezembro. Em Portugal, os números ainda não são visíveis, no entanto, as movimentações no mundo do recrutamento apontam para um extremo dinamismo e competitividade

A este êxodo no mundo laboral, Anthony Klotz, Professor Associado de Gestão na Texas A&M University, apelidou de “The Great Resignation” ou “A Grande Renúncia” numa tradução muito livre para português. Apesar de a pandemia do Covid-19, ter impulsionado muitas destas decisões, este é ainda um fenómeno que se estende no ano de 2022 potenciado pelos constantes acontecimentos que abalam a economia a nível mundial. Muitos dos que ainda não mudaram, estão em vias de o fazer, como demonstra um estudo recente onde participaram mais de 52 mil  trabalhadores espalhados por cerca de 44 países, e onde um em cada 5 inquiridos pondera mudar de entidade patronal nos próximos 12 meses. 

Algumas das razões apontadas que levam os trabalhadores a decidir mudar de emprego prendem-se com:

  • O regresso ao trabalho presencial: muitos profissionais questionam-se sobre o porquê de terem de voltar a gastar horas em deslocações quando o teletrabalho funcionou perfeitamente durante a pandemia;

  • Mudança de estilo de vida: a pandemia levou muitas pessoas a parar e refletir sobre a sua relação com o trabalho, tendo decidido adoptar novos hábitos e mindsets que podem já não ser compatíveis com a atual empresa em que se encontram; 

  • A procura de um salário melhor: com o aumento da inflação e do preço dos bens essenciais, muitos trabalhadores procuram melhores remunerações, muitas vezes encontrando oportunidades em mercados internacionais a que o trabalho remoto abriu portas. 

Mas, e quando o novo trabalho não é o que eu esperava?

Apesar deste dinamismo no mercado poder traduzir-se num entusiasmo contagioso entre os trabalhadores, que procuram apanhar esta onda e eventualmente melhorarem a sua situação profissional, é preciso ter algum cuidado na hora de decidir dar o salto, especialmente se este implicar uma mudança de residência ou estilo de vida. 

Num inquérito realizado pela USA Today um em cada cinco inquiridos que mudou de trabalho, arrependeu-se da decisão e preferia ter permanecido na posição anterior. 26% indicam ainda que não estão satisfeitos com o novo emprego e um terço já se encontram à procura de outro projeto. Por norma, este  arrependimento incide sobre um desalinhamento de expectativas face ao novo cargo, perda de equilíbrio entre o trabalho e a vida, saudades da cultura da empresa anterior e falta de ponderação na hora de avaliar os prós e contras da mudança.  

great resignation

Estes dados mostram-nos como é importante ponderar bem a mudança de trabalho e tomar uma uma decisão informada antes de aceitar embarcar num novo projeto profissional. Aqui ficam algumas estratégias que deves adotar caso estejas a ponderar aceitar uma proposta de trabalho: 

  • Procura perceber se de facto a posição atual já não faz mais sentido: Antes de qualquer mudança é preciso ter a certeza de que o projeto atual já não te está a permitir crescer de alguma forma. Por vezes ter uma comunicação aberta com o teu team leader ou chefia direta pode proporcionar novas oportunidades para reinventarem as tuas funções ou até mesmo mudares por completo, dentro do projeto ou organização. No entanto, se sentes que procuras formas de evitar o trabalho, tens longos períodos de procrastinação ou até sentes ansiedade por saber que tens de ir trabalhar, poderá de facto estar na hora de mudar. 

  • Adopta um processo de tomada de decisão: Receber uma proposta de trabalho é um dos maiores ego boosters que existe, já que é uma evidência de que o nosso trabalho e competências são valorizados e apreciados. No entanto, na hora de tomar a decisão, é preciso ser racional, pois, como vimos, esta é uma grande decisão que pode não só afetar a tua vida como aqueles que te rodeiam. Assim, durante este processo é essencial teres em consideração todos os aspetos que mais te irão afetar, caso aceites, seja a nível profissional como pessoal. Procura pensar sobre aquilo que já não está a funcionar para ti na função atual, aquilo que pretendes fazer, as competências que sentes que não estão a ser  valorizadas, as qualidades que gostavas que a tua chefia tivesse e como pretendes crescer enquanto profissional. É ainda importante refletires sobre o valor que podes acrescentar, aquilo que valorizas no ambiente de trabalho e os benefícios que consideras fundamentais. Por fim, procura mesmo escrever como é que esta oportunidade te vai poder proporcionar tudo isso e define quais os teus critérios para aceitares.

  • Não tenhas medo de fazer questões: Quando uma empresa te pretende contratar, é fácil fazer promessas que dificilmente poderão ser cumpridas e isso é algo sobre o qual deverás estar consciente. Neste sentido, procura fazer questões que incidam sobre os temas que são mais importantes para ti e que mais valorizas, como perceber bem as funções e responsabilidades da nova posição, a cultura da empresa, os processos internos, as expectativas face ao teu trabalho, as estratégias de retenção, o potencial de crescimento, as métricas e os desafios que podes esperar. 

  • Pede conselhos a mais alguém: Por vezes quando estamos inclinados a aceitar algo, podemos ficar parcialmente cegos aos seus riscos. Por isso, procura explicar o teu processo de tomada de decisão a alguém externo (que não tenha nenhum proveito sobre a tua mudança) e vê se te escapou alguma coisa que te possa fazer arrepender. Para além disso, procura sempre contactar pessoas que já trabalhem na empresa que tens em vista para perceberes realmente como é trabalhar nesse local. 

Como sabes, a vida é feita de riscos e qualquer mudança terá inevitavelmente um risco associado. Aqui o fundamental é estares bem ciente desse risco, através de um processo de decisão informada para que no final das contas os benefícios superem tudo o resto.