A armadilha da promoção: Os 5 erros mais comuns na liderança 

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Escrito por

Marina Pinho

Communication Manager

Nem toda a gente nasce para ser líder. No entanto, muitas vezes, a única forma de evoluir profissionalmente é avançar para um cargo de gestão, para o qual nem sempre estamos preparados. Depois da euforia inicial, começam a aparecer os problemas reais que necessitam de ser geridos e controlados e que nem sempre estão relacionados com as operações, mas sim com as pessoas. Contudo, o sucesso de um gestor pouco tem a ver com o seu título e tudo com o seu mindset

Transitar para um cargo de gestão pela primeira vez é um passo muito importante na carreira de muitos profissionais. Contudo, assim que a poeira assenta e os problemas começam a surgir, muito rapidamente se apercebem de que podem não estar assim tão preparados quanto acreditavam. As dificuldades nem se prendem tanto com os conhecimentos técnicos, já que, por norma, antes da promoção existe uma carreira já consolidada em determinada área, mas sim na capacidade de resolver problemas, tomar decisões difíceis e gerir as equipas. 

A definição de líder diz-nos que estas são as pessoas que têm uma visão, impulsionam a mudança, inspiram os outros a atingirem objetivos comuns e, criam boas relações no trabalho, mantendo sempre uma fasquia elevada no que toca ao comportamento ético. No mundo atual, com as constantes mudanças e crises que se vivem, é cada vez mais complicado conseguir cumprir este papel, sendo ainda mais difícil fazê-lo quando também não se tem o conhecimento ou os meios necessários para tal. 

Neste artigo iremos abordar alguns dos desafios mais comuns que os gestores enfrentam e que podem estar a comprometer o sucesso da sua equipa. 

Não ter a formação e recursos necessários 

Infelizmente este é um ponto que acontece em grande parte dos casos. Por norma, os project managers evoluem de uma posição técnica sénior, para uma vertente de liderança e gestão, sem no entanto terem a preparação para tal. 

É assumido que, uma vez que possuem as competências técnicas, saibam coordenar a equipa. Contudo, a sua nova função requer um conjunto de competências que vão muito além do conhecimento técnico. Requer uma boa capacidade de resolver e gerir problemas, de responder sob stress e com base em pouca informação, de conseguir pensar estrategicamente e de ter pulso para gerir várias pessoas, com diferentes capacidades, personalidades, níveis de experiência e necessidades específicas.  

A falta de meios e de conhecimento nestes campos por parte do líder é um problema que acabará inevitavelmente por afetar toda a equipa e colocar em causa os seus objetivos. Por vezes, problemas como a rotatividade, dificuldade em fixar os melhores profissionais e em atingir os objectivos, podem inclusive ter origem aqui mesmo. Do facto de os gestores não terem o tempo ou os meios necessários para se focarem nas necessidades das suas equipas como um todo.

É por isso que as organizações devem olhar para as formações voltadas para líderes como um investimento relevante e que deve ser feito logo no início, para evitar que surjam problemas no futuro que afetem toda a equipa e os projetos desenvolvidos. 

Não estabelecer um ritmo adequado para a equipa 

Esta é uma das tarefas mais complicadas para um líder, pois existe grande margem para erro. Por um lado, se as expectativas relativas ao desempenho da equipa forem demasiado elevadas, as pessoas desmotivam e tornam-se insatisfeitas. Se por outro lado, forem demasiado baixas, vai ser muito difícil atingir os objetivos e metas estabelecidos. 

As pessoas precisam de rotinas e de alguma previsibilidade, por isso é muito importante que o líder estabeleça um ritmo de trabalho adequado para a equipa e que o vá ajustando sempre que for necessário. 

Pensemos num barco cheio de pessoas. O líder é aquele que vai conduzindo o barco de acordo com a corrente. Ele não controla a força do mar, nem as ondas, nem o tempo, mas controla o seu próprio barco e pode ajustá-lo tendo em conta o que se passa à sua volta. Agora, não pode é deixar que as pessoas que lá seguem se atirem borda fora, nem que tentem ser elas a agarrar o leme ou que impeçam o barco de andar para a frente. 

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Não saber delegar

O dia a dia de um gestor não é fácil. Entre ter de gerir prazos, problemas de pessoas, crises e ainda cumprir objetivos cada vez mais exigentes com poucos recursos, se não conseguir estabelecer alguns limites, rapidamente deixa de ter controlo sobre o seu tempo e capacidade para levar a empresa para a frente. 

Por isso mesmo, conseguir compartimentalizar alguns temas é fundamental para que o líder consiga ter tempo para refletir e pensar em novas estratégias para a empresa ou equipa que lidera. Assim, é necessário que:

  • Se mantenha focado no que é verdadeiramente importante: quando os problemas se juntam todos, a primeira coisa que pensamos é precisamente em tentar organizar o caos, fazer uma lista e “atacar” todos os pontos um a um. Ora aqui é onde os líderes (e não só), muitas vezes falham. O tempo é algo precioso e, por vezes, simplesmente não é possível tratar de tudo.

  • Não se deixe arrastar pelos problemas dos outros: As pessoas olham para os líderes como um guia. Por isso mesmo, estes devem manter-se capazes de analisar a empresa ou o projeto como um todo (“see the big picture”) e para isso precisam de tempo. Ora, o que também acontece frequentemente é existirem pessoas que procuram passar os seus problemas para as mãos dos gestores, esperando que estes lhes dêem as respostas. O problema é que se os líderes o permitirem, todo o seu tempo será consumido neste tipo de situações, impedindo que o mesmo se foque em definir a visão estratégica da empresa. Assim, devem manter o número de reuniões ao mínimo e tentar que estas sejam o mais curtas e ágil possível.

  • Saiba delegar e pedir ajuda: Quem assume cargos de liderança tem a tendência para acumular muitas tarefas pelo facto de possuir um forte sentido de responsabilidade. No entanto, tentar fazer tudo sozinho não é uma característica de liderança, mas ter humildade para pedir ajuda é. Assim, tudo o que puder ser feito por outro profissional ou mesmo ser delegado a outra empresa competente, resultará num ganho de tempo e disponibilidade para gerir os problemas em mãos.

Achar que já não há mais nada para aprender 

Apesar da “síndrome do impostor” ser algo que pode prejudicar seriamente um líder (isto é, a pessoa acredita que o seu sucesso baseia-se em sorte e por isso não se considera merecedora de reconhecimento ou elogio, estando sempre com medo de ser “descoberta” e considerada uma fraude), o excesso de confiança pode da mesma forma ser uma ameaça. 

Os líderes não devem assumir que já sabem tudo e os restantes membros da equipa também não devem pensar que o líder terá todas as respostas. Assim, é necessário que haja um equilíbrio em que os gestores tenham confiança nas suas capacidades para o papel que assumem, mas tendo sempre em mente a ideia de que “só sei que nada sei”. 

Não ter noção do impacto que têm 

Tudo o que um líder diz ou faz importa e é observado de perto pelas pessoas que lidera. Reuben Mark diz que, quando apenas era CEO da Colgate-Palmolive, tinha um assistente que mantinha um registo de todos os andares que ele visitava para que fizesse o mesmo número de visitas a cada um de modo a nenhum se sentir excluído.

Como podemos ver, é muito importante que o gestor tenha a capacidade de analisar e gerir os seus próprios comportamentos e emoções. Para além disso, deve ainda conhecer-se bem e saber aquilo que o “provoca”. Ou seja, conhecer o tipo de situações stressantes que desencadeiam uma reação exagerada. Ao nos conhecermos a nós próprios, conseguimos gerir de forma muito mais eficaz as situações com as quais somos confrontados e atingir melhores resultados. 

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Para terminar, os profissionais que se tornem gestores, para além da sua expertise técnica, devem ainda procurar cultivar as suas competências de liderança: criando um ritmo adequado à sua equipa; procurando obter formação nas áreas onde têm mais dificuldades e pedindo mais recursos às empresas onde trabalham; sabendo delegar as tarefas e os processos que não são fundamentais a outros profissionais ou empresas que providenciem esses serviços (por exemplo a um Employer of Record - EOR); e trabalhando no seu auto-conhecimento. 

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