Com o aumento da presença online de inúmeras empresas e a multiplicidade de plataformas, websites e aplicações disponíveis no digital, conseguir ser diferenciador e captar a atenção dos utilizadores é cada vez mais difícil. Mas é exatamente isso que os UI/UX Designers procuram fazer. Proporcionar uma experiência positiva, visualmente atrativa e projetar o caminho do utilizador enquanto este navega pelas aplicações e websites. Neste artigo falamos com a nossa consultora Joana Cachopo sobre o papel de um UI/UX Designer, o processo criativo a que estão sujeitos, explorando ainda as ferramentas e tecnologias mais importantes e apresentando alguns recursos para todos aqueles que pretendem evoluir na área.
O que te fez ter interesse em enveredar pelo mundo das Artes Visuais?
Eu entrei em artes porque uma das minhas paixões sempre foi desenhar, sempre me vi agarrada ao papel e à caneta [risos]. Sempre foi isso que me fez puxar para o mundo das artes, a paixão e gostar de ver a cor e… poder de uma “coisa” plana conseguir trazer perspectiva e trazer vida. Também sempre fui grande fã de História.
Sempre soubeste que querias seguir Artes?
Eu acho que sim, que sempre soube. Na minha terra sempre existiu aquela pressão de “se fores para artes não vais ser nada, ciências é que é bom” e na altura até ponderei ser veterinária, mas depois pensei “eu não gosto disto, vou fazer o que eu gosto e depois logo se vê”. Quando entrei em artes descobri a minha paixão pela multimédia. Fazíamos moodboards, storybooks, curtas e edição de vídeo e foi aí que descobri que ainda gostava mais disto.
Como descobriste a profissão de UI/UX Designer?
O meu curso [Tecnologias e Design de Multimédia] era muito à base de programação, pelo menos os nossos professores focavam-se muito na parte do código e da programação. A minha paixão pelo UI/UX Design veio dos projetos integrados que tínhamos.
Havia uma cadeira bastante interessante que juntava o que aprendíamos em todas as outras cadeiras. Era sorteado um cliente em Viseu e depois fazíamos um projeto do zero para eles. Eu era a pessoa que ficava sempre encarregue da parte do desenho e ajudava nos estilos do projeto. Nunca fui grande programadora [risos]. Então acho que foi aí que começou a parte de UI/UX e a parte da pesquisa.
E quando entraste no mercado de trabalho, já ias com a ideia de te candidatar a este tipo de vagas?
Eu queria começar a trabalhar onde desse. Queria apresentar-me no mercado de trabalho da melhor forma possível e ao ir trabalhando ia vendo o que eu queria e gostava. Então eu andava à procura de vagas de Designer de Produto na vertente web, programação Frontend de estilos e depois de UI/UX Design. Consegui por sorte (e acredito que por trabalho árduo) a vaga no meu antigo trabalho e foi aí que eu comecei a minha carreira.
O que é o UI (user interface) e o UX (user experience) design e qual é a diferença entre os dois?
O UI e o UX são conceitos que andam sempre de mão dada, porque o UI é a parte estética e o UX é a parte da pesquisa.
Imagina que vais fazer uma compra online. Tu vais lá [ao website], tens o site em azul com botões azuis e tens lá um input text para pesquisares ou até mesmo um card para clicares todo bonito. Isso é o UI.
A parte de UX é tu entrares no site, saberes que aquele cartão está lá e saberes que ao clicares naquele botão em específico, podes começar a efetuar o processo de requisição ou de compra desse mesmo item.
Depois tens a parte da web e do mobile que também são conceitos diferentes em termos de usabilidade. Por exemplo no UX em mobile temos muito mais atenção ao alcance dos dedos do utilizador. Já em web o foco no alcance é mais em termos de tamanhos e hierarquias, porque há ecrãs que podem ser muito grandes ou muito pequenos.
Em termos de UI no que toca à acessibilidade tens de perceber se passa nas leis de acessibilidade do A, AA e AAA. Tens também de conseguir trazer consistência através dos componentes que desenvolvemos e que têm por base uma experiência específica à qual nós aplicamos o UI.
Como descreves o teu processo criativo desde a concepção de uma ideia até ao produto final?
Eu começo sempre pelo brainstorming e por fazer a ponte com o cliente para perceber o que é preciso e quais são os requisitos. Tento sempre pesquisar as nomenclaturas que o cliente refere para tentar ter algum background e perceber o que significam e como afetam as pessoas que as utilizam. Compreender quem são os utilizadores e que terminologias usam, porque isso depois também afeta o copy que aplicamos na plataforma. O copy é sempre importante porque impacta a acessibilidade da mesma.
Depois, no brainstorming, partimos das várias pesquisas e fazemos benchmarking -isto é, analisamos a concorrência e fazemos um merge de pontos fortes e fracos relativamente às outras plataformas.
Posteriormente temos a parte da baixa fidelidade que é a primeira interação em termos visuais que temos com o cliente e onde eles nos dizem o que pretendem em termos de navegação e de disposição dos itens. A baixa fidelidade é importante porque não faz o cliente prender-se a uma UI, a um conceito em específico, já que é algo muito rudimentar. O nosso objetivo é mesmo focar a experiência no fluxo da plataforma e na experiência que o utilizador pode ter com ela.
Depois de aprovado por parte do cliente vamos à prototipagem. É aí que entra a interação com os nossos componentes e é uma etapa onde utilizamos muito o conceito do Design Systems.
Por fim, apresentamos novamente ao cliente, ele aprova, fazemos testes de usabilidade (com entrevistas e observações), para ter a certeza de que a nossa proposta é 100% compreensível e partimos para outro projeto.
Como é o teu dia a dia no projeto em que te encontras atualmente?
Atualmente trabalho por sprints de 15 dias em três projetos diferentes, então tenho de me saber dividir. No meu projeto principal estou a trabalhar na prototipagem de alta e estive há pouco tempo a fazer observações porque é um projeto bastante complexo e bastante técnico, então é preciso um estudo constante para perceber que tipo de utilizadores estão a usar o produto.
Relativamente ao meu dia a dia, entro às 09h, tenho a daily com a minha team leader onde explico o que vou fazer durante o dia. Também tenho a minha organização pessoal na plataforma que usamos na empresa e no dia anterior junto sempre os principais tópicos que não terminei no dia para começar de manhã. Também costumo ter bastantes reuniões para alinhar alguns produtos e basicamente é isto.
O meu dia a dia depende muito dos tópicos e das entregas que tenha. Atualmente no meu projeto principal tenho entregas de 15 em 15 dias então organizo a minha semana de forma a que consiga entregar nessas alturas e conseguir equilibrar com os outros projetos. É preciso ter algum jogo de cintura porque às vezes chegam questões que eu não quero deixar para daqui a uns dias porque implica marcar reunião com o cliente para tentar perceber os motivos e depois alocar uma hora para tratar desses temas para não me esquecer do que o cliente indicou.
Quais são as ferramentas e tecnologias que utilizas diariamente no teu trabalho?
Eu trabalho com o Jira para organização de trabalho e para fazer a ponte com outras equipas. Uso também o Figma para trabalhar com os meus colegas e para fazer o meu trabalho diariamente. Já usei também o FigJam para fazer a parte da pesquisa e brainstorming. Agora fizemos a transição para o Confluence da Atlassian e é lá que tenho toda a documentação, ou seja, datas, documentação do projeto, tenho também todo o meu processo de trabalho e de entregas. Esta parte da documentação é dos pontos mais importantes. O nosso objetivo com esta documentação é pensar “e se alguém pegasse no nosso projeto?”, por isso é importante documentar o porquê das nossas decisões.
Podes partilhar um ou dois projetos em que trabalhaste e que consideras particularmente memoráveis ou desafiantes?
Este projeto onde estou a trabalhar atualmente é desafiante porque trabalho muito com hardware então existem muitos termos técnicos.
No meu antigo projeto também tive de desenvolver um fluxo para a instalação de um sensor. A questão é que existem imensos sensores e configurações, e conseguir trazer isso para uma boa experiência e ajudar o utilizador a fazer o tracking da configuração de um determinado sensor e saber que sensor é que está a configurar em específico é desafiante.
Fazendo a ponte com o que estou a fazer agora, também é um projeto muito técnico, mas é mais de visualização. Não tenho de configurar, tenho de consultar, então é o desafio de eu estar a olhar para aquilo e saber que é uma configuração e que tipo de configuração é que é.
Como te manténs atualizada com as mudanças no setor?
Eu tento sempre ler muitos artigos e sigo muitas paginas do Youtube de raparigas da minha área que fazem vlogs com updates. Gosto muito da Sharon Yeun Kim que trabalha com a Google e é muito ativa no Linkedin. Tem também uma plataforma de use cases e escreve para lá. Ela também é muito organizada e tem muito conhecimento na vertente de UX e como tenho muito interesse nessa parte, ela é uma das pessoas que eu mais sigo.
Também sigo a Maddy Beard que trabalha como freelancer e sinto que ela estimula-me a criatividade. Ela há pouco tempo publicou vários episódios onde, na sua cidade, ia ter com pessoas com negócios e ia provar a sua comida ou usar o seu serviço, ou seja, ela era o próprio utilizador. Depois via o website, fazia questões às pessoas que passavam na rua sobre o negócio em questão, mostrava o site do serviço e depois estruturava toda uma solução para mostrar aos donos e ver se eles gostavam. Eu achei isso interessante porque numa questão de duas horas passava por todo um processo e depois grava-se a ela própria a estruturar o pensamento crítico por trás e isso era muito interessante.
Quanto aos artigos, tens o UX Collective e Behance onde podes ver use cases. O Linkedin também é das plataformas que eu mais consulto, sigo bastantes pessoas da área. Sigo por exemplo o Interaction Design Foundation (IxDF) porque costumam partilhar updates e quando saem artigos novos eles informam e há muitos UI/UX designer que deixam dicas. Também sigo algumas empresas que estão direcionadas para a educação como a EDIT, a Tangível e a Udemy, pois lançam alguns cursos e partilham lá.
Alguns UI/UX Designers também partilham conquistas ou certificados que têm e é interessante ver e pesquisar se é interessante para mim. No início do ano passado eu seguia uma rapariga de Espanha que é da área e ela começou a publicar muitos certificados da plataforma UXL que até acabou por ficar bastante famosa. Esta plataforma é super interessante porque tens muitos desafios para fazer e alguns dão “badges” de confirmação numa hora e permite-te consolidar aquilo que já sabes. Lá consegues ter um perfil muito parecido com o do Linkedin com os teus pontos fortes tendo em conta as respostas que dás aos desafios que resolves. Esta tem sido uma das plataformas que mais me surpreendeu.
Quais são os maiores desafios que enfrentas como UI/UX designer? Como lidas com eles?
Para mim vai sempre ser a ponte com o cliente. Não é que sejam difíceis mas acho que o que tenho procurado melhorar é o saber expor muito bem os meus pontos. Eu sentia que no início da minha carreira não o conseguia fazer muito bem e levava sempre com “nãos” à primeira e isso no início deixava-me frustrada. Por isso acho que os meus pontos de melhoria serão sempre esses.
Eu não me importo de ser criticada, eu gosto do desafio de mostrar que sei fazer melhor, de conseguir encontrar a felicidade do cliente, ao mesmo tempo que mantemos a ponte com as necessidades dos utilizadores. Por exemplo, o cliente pode querer um carrossel na plataforma, mas os utilizadores terem pouca literacia digital e não saberem o que fazer com aquilo. E como é que eu faço esta ponte? Como é que eu justifico isto? Então acho que o maior desafio é sempre este, fazer ver o que é preciso e o que o cliente quer, fazê-lo ver o outro lado.
Que conselhos darias a alguém que está a começar na área de UI/UX design? Existem skills ou conhecimentos que consideras essenciais?
Bom humor. Eu pelo menos sempre me considerei criativa e gosto de mostrar à vontade com as outras pessoas. Portanto em termos de soft skills acho que mostrares-te à vontade e que és criativo. E um bocadinho de loucura também nunca fez mal a ninguém. Dependendo da empresa até podem ver isso como uma inovação.
Em termos de ferramentas é sempre interessante sabermos mexer num bocadinho de tudo e ao seguires e pesquisares ativamente plataformas e seguindo outras pessoas também te vais mantendo atualizado no mercado. Mas acima de tudo acho que é importante ter a mente aberta para a mudança. Este é dos meus maiores conselhos, estar aberto à mudança e agarrar com unhas e dentes aquilo que sabemos e o que podemos vir a saber.
Se tivesses de contratar um UX/UI designer para uma equipa tua, o que é que procurarias no candidato ideal?
Se estivesse à procura de alguém tentava encontrar um equilíbrio entre criatividade e ter noção do que é concretizável dentro de uma plataforma. Uma pessoa com boas soft skills, confiante, criativa, que tenha boa comunicação para com os outros, divertida e pronta para aprender. Não precisava de ter muita experiência porque eu acredito que a experiência vem com o tempo. Preferia dar ênfase às soft skills e à vontade de aprender, porque o resto vem por acréscimo.
O que mudarias no teu percurso até agora se pudesses?
Nada, acho que nada. Eu gosto do meu percurso atual. Já tive a experiência de contactar com startups, com médias empresas e agora no meu projeto atual tenho a experiência de trabalhar numa empresa grande. Noto bastante as diferenças, é interessante e sinto que estou a aprender bastante e não mudava nada. Acho que é tudo uma aprendizagem.
Se também trabalhas nesta área ou gostarias de ter a tua primeira experiência enquanto UI/UX Designer, conhece os nossos projetos nesta área aqui. Ouve mais sobre temas como carreira, produtividade, tecnologia, gestão ou liderança no nosso podcast: