Mexericos no trabalho: como gerir, evitar e transformar em vantagens

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Escrito por

Marina Pinho

Communication Manager

Quem nunca ouviu mexericos no trabalho que atire a primeira pedra. Muitas vezes disfarçados de conversas de corredor ou desabafos inofensivos, estes rumores podem tornar-se armadilhas que prejudicam a confiança, comprometem as equipas e a produtividade. E não se enganem, todas as empresas têm mexericos, mas quando não são geridos corretamente, podem rapidamente deteriorar o ambiente laboral. Neste artigo, vamos explorar as razões por trás dos mexericos no trabalho (work gossip), o impacto que têm nas equipas e apresentar estratégias eficazes para gerir, prevenir e transformar estas situações em oportunidades de crescimento organizacional. 

O que são mexericos? 

O mexerico ou bisbilhotice no trabalho refere-se a conversas informais que frequentemente envolvem informações parciais, exageradas ou falsas sobre colegas ou situações internas da empresa. Na verdade, é difícil encontrar alguém que não desabafe sobre frustrações do trabalho ocasionalmente. É algo normal, natural e até saudável, ajudando a libertar tensão e a recolher suporte. 

Quando a conversa passa de queixas relacionadas com o trabalho para comentários sobre comportamentos, escolhas ou vidas pessoais dos colegas, ultrapassa-se uma linha entre a conversa informal e algo mais perigoso e tóxico. O mexerico atua como um ácido que corrói silenciosamente e de forma rápida os alicerces do ambiente de trabalho. Quem é alvo destes rumores sente-se muitas vezes traído e desvalorizado, causando uma quebra de confiança e conduzindo a relações mais distantes, repletas de problemas de comunicação e dificuldade em colaborar. 

Assim, tendo em conta que a maior parte dos trabalhadores envolve-se neste tipo de rumores, perceber como é que as pessoas recebem quem pratica coscuvilhice e qual o seu impacto nas organizações torna-se importante. 

…nem toda a coscuvilhice é como o ‘Burn Book’ do filme Mean Girls. Às vezes as pessoas falam para pedir conselhos, desabafar ou partilhar novidades. Não tem de ser algo malicioso.” - Utilizador do Reddit

Causas da coscuvilhice no trabalho

Os mexericos no trabalho podem surgir por diversas razões que, por norma, se encontram interligadas. Em primeiro lugar temos a falha na comunicação interna. Quando os colaboradores não recebem informações claras e atempadas sobre decisões ou mudanças na organização, o vazio de informação é rapidamente preenchido com suposições e especulações. Isso contribui para a proliferação de rumores e desinformação.

Outro fator significativo é a competitividade exagerada entre colegas ou departamentos. Ambientes onde o reconhecimento é escasso e as oportunidades de progressão são disputadas de forma intensa tendem a fomentar rivalidades. Nesses contextos, os mexericos podem ser usados como ferramenta de destabilização ou como tentativa de autopromoção.

A insatisfação laboral também desempenha um papel central. Quando os colaboradores sentem que os seus esforços não são valorizados, que não são ouvidos ou que há favoritismo por parte da liderança, tende a emergir um sentimento de frustração. Essa frustração pode traduzir-se em comentários depreciativos ou críticas informais que se espalham rapidamente.

Por outro lado, há uma motivação social que, apesar de mais subtil, é igualmente relevante. Os seres humanos têm uma necessidade natural de criar vínculos e partilhar experiências. Conversas informais podem reforçar laços sociais, mas facilmente descambam para o mexerico, sobretudo quando não existem espaços de comunicação estruturada dentro da equipa.

Por fim, a ausência de liderança proativa agrava todos os fatores anteriores. Líderes que não estabelecem orientações claras, que evitam conversas difíceis ou que não promovem um ambiente de abertura acabam por deixar espaço para interpretações erradas. Esse vazio de liderança torna-se terreno fértil para rumores, desconfiança e polarização entre colegas.

Tipos de mexericos 

A coscuvilhice no trabalho prende-se com o falar sobre colegas, geralmente sobre questões pessoais ou profissionais dessas pessoas sem que estas estejam presentes ou cientes do que está a ser dito. O mexerico pode incidir sobre aspetos da vida pessoal como traições, divórcios ou situações que aconteceram em eventos da equipa. Contudo, também pode envolver rumores sobre a própria empresa, como críticas à conduta de gestores ou especulações sobre o futuro da organização. 

Embora o mexerico esteja habitualmente associado a algo negativo, em certas ocasiões pode ser visto como algo construtivo quando o rumor é um elogio a alguém ou se partilham boas ações realizadas pelos colegas. Quem pratica este tipo de “mexerico positivo” acaba por conseguir contrariar a imagem negativa com que as pessoas que espalham rumores tendem a ficar. 

Contudo, conforme já indicamos, existem uma linha muito ténue que separa aquilo que pode ser considerado como inofensivo daquilo que pode ser potencialmente prejudicial e mesmo perigoso. Para alguns, a coscuvilhice apenas é inaceitável quando envolve comentários negativos ou maliciosos sobre outras pessoas, mas para outros, qualquer tipo de conversa sobre terceiros ou sobre a organização já pode ter este rótulo. 

fofocas no trabalho

As consequências do “work gossip” 

A bisbilhotice no local de trabalho pode ter um impacto bastante negativo começando pela redução da motivação e desempenho, assim como um aumento no absenteísmo (ato de não comparecer ao trabalho). Em algumas situações recorrentes, pode levar a situações de stress laboral representando uma violação do dever do empregador em garantir saúde, segurança e bem-estar aos seus colaboradores. 

Outras consequências negativas mais comuns incluem: desconfiança e conflitos entre colegas, aumento da ansiedade devido à circulação de rumores sem clareza entre o que é verdade e o que é invenção, divisões internas com os colaboradores a tomar partidos, danos na reputação e sentimentos magoados, perda de autoridade e credibilidade, quebra de produtividade e desperdício de tempo. Já quando os boatos dizem respeito à própria empresa (por exemplo, sobre despedimentos ou quebras de faturação) o impacto pode ser ainda mais sério, levando a que vários colaboradores procurem novas oportunidades mesmo que os seus cargos não estejam realmente em risco.

Estratégias para gerir os mexericos

Como já vimos, quando os mexericos no local de trabalho não são controlados ou são mal geridos, podem gerar sérios problemas para a empresa e afetar negativamente o employer branding. Deste modo, é essencial o envolvimento dos líderes e gestores no combate à coscuvilhice no local de trabalho.

Algumas boas práticas que podem ajudar os empregadores e gestores a promoverem um ambiente de trabalho positivo são: 

  • Políticas claras e visíveis: Criar e fazer cumprir regras que definam comportamentos aceitáveis e as consequências de participar em mexericos. Estas diretrizes devem estar incluídas nas políticas contra o bullying.

  • Levar a sério as queixas: Os colaboradores devem sentir-se seguros para reportar situações de gossip, com a certeza de que serão levadas a sério e devidamente investigadas. Muitas vezes, uma conversa informal e discreta com as pessoas envolvidas pode ser suficiente, mas se o problema persistir ou for grave, é essencial intervir de acordo.

  • Liderar pelo exemplo: As lideranças devem ser modelo de integridade, respeito e discrição, influenciando positivamente o comportamento de toda a equipa.

  • Promover o diálogo aberto: Criar espaços seguros onde os colaboradores possam expressar preocupações ou conflitos sem medo de retaliação.

  • Oferecer formação contínua: Promover sessões sobre comunicação eficaz, resolução de conflitos e os efeitos negativos da coscuvilhice nas dinâmicas das equipas. Este tipo de formação deve sensibilizar os colaboradores para o impacto e as consequências dos boatos. 

  • Promover uma cultura de trabalho positiva: Existem várias formas de criar um ambiente positivo. Atividades de team building que exijam cooperação são eficazes para fortalecer relações e confiança mútua, ajudando a resolver conflitos. Espaços de trabalho abertos também favorecem a comunicação clara e direta. Por fim, supervisões regulares, como reuniões semanais individuais e de equipa, oferecem espaço para discutir preocupações e evitar que estas se transformem em rumores prejudiciais.

Como transformar os rumores em oportunidades?

Apesar de serem maioritariamente negativos, os mexericos podem também representar oportunidades de melhoria organizacional. As empresas podem aproveitar estas oportunidades para melhorar as suas práticas internas e reforçar relações. Transformar rumores em melhorias estruturais demonstra maturidade organizacional e aumenta o envolvimento das equipas:

  • Ajudam a detectar precocemente problemas internos: Os rumores podem indicar questões ocultas que precisam de ser abordadas, como desigualdade de tratamento ou falhas de liderança;

  • Oferecem feedback indireto valioso: Permite identificar preocupações reais dos colaboradores, que não são expressas diretamente por receio de represálias;

  • Fortalecem relações interpessoais: Quando geridos adequadamente, os mexericos podem contribuir para maior coesão social e espírito de equipa, promovendo espaços de partilha mais genuínos;

  • São uma oportunidade para reforçar a cultura da empresa: Pode-se utilizar as situações de mexerico como exemplos educativos e momentos de reforço dos valores organizacionais.

Em conclusão, os mexericos são inevitáveis, mas uma gestão estratégica e proativa permite transformar estas situações em oportunidades para crescimento organizacional e fortalecimento das equipas. Um ambiente saudável não se cria apenas com regras, mas com consistência na liderança, canais abertos de comunicação e respeito mútuo entre todos os membros da organização. Investir em estratégias eficazes de comunicação, formação contínua e intervenção atempada melhora significativamente a qualidade do ambiente laboral.

As empresas que valorizam a transparência e o bem-estar dos colaboradores não só reduzem os conflitos internos, como também constroem equipas mais resilientes, colaborativas e alinhadas com os seus valores.