Procurar emprego tornou-se mais difícil e mais frustrante. Mesmo com milhares de ofertas online, muitas vezes os candidatos sentem que estão a falar para o vazio. A boa notícia? Podes tornar este processo mais estratégico e eficiente com apenas alguns ajustes e a ajuda da tecnologia. Assim, neste artigo, partilhamos 6 dicas para que possas melhorar o teu método de procura de emprego, aumentares a tua visibilidade e as hipóteses de encontrares o projeto que te vai permitir dar o próximo passo na tua carreira.
O mercado de trabalho já não é o que era. Em 5 anos, passamos de um “boom” de contratações, onde as empresas de IT lutavam para conseguirem atrair e contratar profissionais da área, com qualquer nível de experiência, e enfrentavam grandes taxas de rotatividade, para uma estabilização profunda da procura. Apesar de ainda existir uma grande necessidade e reconhecimento na área, neste momento, só os profissionais mais qualificados e experientes podem estar confortáveis.
Com a entrada em jogo da Inteligência Artificial, muitas empresas recuaram nos seus objetivos de contratação, trazendo vários profissionais de volta ao mercado e à azáfama da procura de novas oportunidades. No final de 2024, a taxa de empregos vagos estabilizou nos 2,3%, mas em Portugal recuou para 1,3%, sendo o nono valor mais baixo entre os vários países da União Europeia (UE). Atualmente, a população empregada aproxima-se dos 5,2 milhões, sendo o número mais alto registado pelo Instituto Nacional De Estatística (INE). É assim natural que a oferta para quem procura mudar de emprego ou mesmo conseguir uma primeira oportunidade esteja a diminuir.
Lá fora, começam também a surgir relatos de profissionais frustrados com o cenário que encontram, como é o caso de Blake Isaacs, um profissional de 30 anos residente em Chicago. Depois de trabalhar durante cerca de 7 anos para a mesma empresa, viu-se no meio de um lay-off que o obrigou a voltar ao mercado de trabalho e a enfrentar uma realidade que não esperava e à qual chama de “Glass Wall” (tradução livre para “parede de vidro”).
Nas suas palavras: “Vejo centenas de ofertas de emprego todos os dias, mas candidatar-me parece não ter qualquer efeito. Existe uma “Parede de Vidro” que mantém os candidatos afastados. Estamos do lado de fora, a olhar para dentro. (...) Hoje em dia, os candidatos são discretamente empurrados para o lado errado da Parede de Vidro. Conseguimos ver as ofertas de emprego. Sabemos quem está a contratar. Chegamos até a saber que recrutadores estão a trabalhar em cada vaga. Mas não conseguimos aceder-lhes do nosso lado da Parede de Vidro. Podíamos candidatar-nos a 100 vagas por dia — o que, teoricamente, deveria ser produtivo e dar resultados — mas não dá. E, com o tempo, isso desgasta.”
Passadas poucas horas de divulgar a sua experiência no seu perfil de Linkedin, vários profissionais partilharam também as suas experiências semelhantes, demonstrando como este é um fenómeno emergente no mercado que até há bem pouco tempo funcionava de forma inversa. Mas existem formas de melhorar a procura e aumentar as hipóteses de seres chamado/a para uma entrevista num projeto mais alinhado com as tuas expectativas e motivações. Afinal, quando o mercado muda, tu também tens de te ajustar!
Como usar o networking para encontrar emprego
Em Portugal o networking tende a ser associado ao “fator C” ou à cunha, que, por sua vez, tem uma conotação muito negativa. Contudo o networking é algo amplamente praticado por todo o mundo, traz inúmeras vantagens para os profissionais e é uma das melhores formas de progredires na tua carreira. Este gera mais oportunidades de trabalho e negócio, uma melhor capacidade de inovar, mais conhecimento e um maior sentido de autoridade percebida.
Numa altura em que os métodos “tradicionais” de procura de emprego não têm o efeito de outrora, apoiar-se nas relações profissionais e pessoais mantidas ao longo dos anos pode ser diferenciador. Em vez de esperares que alguém encontre o teu CV, chega-te à frente e mostra-te como estando disponível, motivado e à procura. Mas não olhes apenas para as feiras de emprego para este fim. Participa em conferências da tua área, seminários, talks ou outros eventos que juntem profissionais de referência ou que te podem abrir portas. Para além de te manteres informado e atualizado em termos de conhecimentos, é também uma excelente forma de conheceres outros profissionais e realidades que te poderão ajudar a conhecer as pessoas certas.
Procura ainda reatar relações adormecidas, ou seja, pessoas que já conheces, mas com quem não tens mantido um contacto tão frequente ou pessoas com quem mantenhas interesses comuns. Dá uma vista de olhos nas tuas mensagens antigas e procura por recrutadores com quem já falaste no passado, já que poderão ter conhecimento de projetos que necessitem da tua ajuda, mesmo que não estejam ainda a ser divulgados.
Como personalizar as candidaturas e vencer os ATS
A primeira coisa que quase todos os candidatos fazem quando procuram mudar de emprego é enviar dezenas de candidaturas. O problema é quando enviam o mesmo currículo (que muitas vezes não tem a melhor estrutura ou as informações mais relevantes) para vagas distintas e empresas de indústrias, dimensões e culturas totalmente diferentes. A estrutura que uma empresa valoriza pode não ser a mesma que vai interessar a outra.
Assim, por muito que custe, o primeiro passo é fazer uma análise cuidada das empresas com as quais mais te identificas e dos projetos pelos quais mais tens interesse. Depois, olha para o teu currículo e analisa quais são os teus pontos fortes e verifica se estão espelhados no CV.
Destaca as palavras chave mais relevantes, inclui-as de forma estratégica e personaliza a informação tendo em conta a especificidade da vaga a que te estás a candidatar. Este ponto é fundamental nos dias de hoje, pois grande parte das empresas, principalmente as de grande dimensão, recorrem a ATS (“applicant tracking systems”) para analisar as candidaturas que chegam, o que quer dizer que o teu CV pode nem chegar a ser analisado pelas pessoas certas se não tiver as informações corretas e que permitam ao sistema fazer o “match” com a vaga.
Mobilidade interna: oportunidades que estão mesmo ao teu lado
Um novo projeto não significa necessariamente mudar de empresa. Se estás numa empresa de grandes dimensões, com diversos departamentos e estruturas distintas, a tua próxima oportunidade pode estar mais perto do que pensas. Para além disso, muitas empresas dão preferência a pessoas que já conheçam a realidade do meio e até abrem primeiramente as vagas a candidaturas internas.
Assim, procura estar atento às notícias da tua empresa e ser rápido na candidatura, já que muitas destas oportunidades acabam por nem chegar ao mercado. Para isso, fala com o teu manager sobre mobilidade, mostra interesse e atualiza o teu perfil.
Continua a valorizar-te
O curso superior só te faz chegar até certo ponto. Depois de entrares no mercado é fundamental que continues a procurar aprender novas skills e a desenvolver competências técnicas e pessoais para que consigas não só acompanhar as evoluções da área como também destacares-te da concorrência.
Apesar de muitas empresas valorizarem o curso superior, só isso não basta. Um profissional que demonstre ter experiência profissional e gosto por se manter atualizado é sempre mais valorizado pelos empregadores. Por isso procura fazer formações, workshops, certificações ou até mesmo desenvolver skills de forma autodidata que demonstrem que estás a acompanhar os tempos. Ah e não te esqueças de partilhar estas conquistas tanto no CV como no Linkedin.

Prepara-te para as entrevistas
Procurar emprego não é só enviar currículos, é também estar preparado para quando a tão aguardada chamada para entrevista acontece.
Esta preparação acontece muito antes da entrevista propriamente dita. Começa por fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre a empresa. Lê o website, o blogue e as redes sociais da mesma. Podes ainda procurar por notícias recentes sobre a empresa noutros meios como jornais online e reviews em sites como o Glassdoor, Reddit, entre outros.
Depois, volta a olhar para o CV que enviaste e procura responder a potenciais questões que te possam colocar como justificar mudanças na carreira, responsabilidades em projetos anteriores, contacto com determinadas tecnologias, motivações para a mudança, pacote salarial pretendido e possíveis gaps.
Por fim, pratica bem as tuas respostas de modo a sentires que estás preparado para qualquer questão e teres a certeza de que irás responder com calma, honestidade e confiança em ti. Pensa ainda em questões que possas fazer ao entrevistador e uma mensagem final quer querias deixar. Isto fará toda a diferença no momento da conversa com o recrutador.
Usa a IA a teu favor
A Inteligência Artificial já se encontra presente em grande parte das nossas vidas e a procura de trabalho não é exceção. Já não precisas de passar horas a analisar os conteúdos dos websites das empresas à procura da vaga ideal. Agora, podes pedir ajuda ao Copilot, ao Gemini ou até ao ChatGPT de modo a que façam esta análise e te direcionem diretamente para as empresas e projetos com melhor enquadramento face ao que procuras.
Mas não é só para a pesquisa que podes usar esta tecnologia. Na verdade podes recorrer a ela para todas as fases do processo, desde a criação e análise do CV, escrita de emails, preparação para entrevistas com simulações e análise de respostas, respostas a recrutadores e muito mais. Podes encontrar aqui um conjunto alargado de prompts para diversas fases do processo de procura de trabalho que te podem ser úteis.
Se tens acesso à tecnologia, usa-a a teu favor, mas não te esqueças que no fim das contas, as empresas estão-te a contratar a ti e por isso deves usar a IA como um auxílio no processo e não como uma cábula. Para além disso, é importante perceberes que, como tu. outras pessoas vão usar as mesmas ferramentas e as respostas podem-se tornar um pouco parecidas, por isso personaliza sempre a tua abordagem.
Todas as semanas temos novos desafios disponíveis, por isso se estás à procura de emprego em IT, explora os nossos projetos aqui. Ouve mais sobre temas como carreira, produtividade, tecnologia, gestão ou liderança no nosso podcast: